sábado, 28 de novembro de 2009

Amanhecer O que pétala

O amanhecer desponta
..........................................na ponta
da pétala da flor
..........................................quer queira, quer não
qualquer coisa que não
..........................................se despe, não
se des-pétala, não
..........................................diz como pétala:
não amanhece
..........................................nem desperta.


Rafael Lemos, 28-11-'09.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

A poesia é arte visual.

A poesia é arte visual

:


Este blog


não concebe as possibilidades que isso propõe.


segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Palestras do Ferreira Gullar

Entao, nessas andanças a gente acaba esbarrando nuns caras desses e, com sorte, com um gravador. Aqui vão duas palestras do Ferreira Gullar, uma na Biblioteca Nacional, que é interessante, mas ele fala mais dos empregos dele, de diagramação de jornal, só no final é que, inevitavelmente ele fala sobre poesia e responde umasperguntas. A outra é na Bienal desse ano, no Café literário, com Eucanaã Ferraz, professor da Faculdade de Letras da UFRJ, e Claudia Roquette-Pinto, poeta. O áudio dessa última é um pouco melhor que o da primeira.

Bom, sem mais, baixem e ouçam:

Gullar na Biblioteca Nacional:
http://www.4shared.com/file/140395909/8d83d96f/Gullar_na_Biblioteca_Nacional.html

Gullar no Café Literário na Bienal do Livro:
http://www.4shared.com/file/140398015/60954757/Gullarna_cafe_literario_Bienal_do_livro_09.html

sábado, 19 de setembro de 2009

Observações

- Líquido e mudo, estou em contato com a não-presença da matéria: é com isso que crio todas as coisas

- No que afundo à lama, somem meus pés, mas minha palavra flutua, de modo que não necessito de pés e aindassim mantenho-me em movimento.

- Movimento é onde os elementos perfazem-se, onde as coisas deixam de ser perfeitas: habitam e permanacem qualquer âmbito da imensidão do homem sem reduzirem-se a uma significância.

- Da minha boca saem pássaros. Falo com propriedade a respeito deles pois habitam dentro de mim. Saem, mas permanecem dentro.

- Tudo que se faz com afetividade é concreto.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Revisitando : deixar-se revisitar (sur ma parole)

O Livro Sobre Nada
  • Com pedaços de mim eu monto um ser atônito.
  • Tudo que não invento é falso.
  • Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira.
  • Não pode haver ausência de boca nas palavras: nenhuma fique desamparada do ser que a revelou.
  • É mais fácil fazer da tolice um regalo do que da sensatez.
  • Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada; mas se não desejo contar nada, faço poesia.
  • Melhor jeito que achei para me conhecer foi fazendo o contrário.
  • A inércia é o meu ato principal.
  • Há histórias tão verdadeiras que às vezes parece que são inventadas.
  • O artista é um erro da natureza. Beethoven foi um erro perfeito.
  • A terapia literária consiste em desarrumar a linguagem a ponto que ela expresse nossos mais fundos desejos.
  • Quero a palavra que sirva na boca dos passarinhos.
  • Por pudor sou impuro.
  • Não preciso do fim para chegar.
  • De tudo haveria de ficar para nós um sentimento longínquo de coisa esquecida na terra — Como um lápis numa península.
  • Do lugar onde estou já fui embora.

Manoel de Barros

******

Estilística invencível

Um dia

controlar meus passos

hei ?

.

Donde estou não quero estar.
vontade
o motor impulsiona
e no instante seguinte
já não somos já não estamos já
não sabemos
e ainda assim
nenhum de nós ousa romper
com as entranhas da parole e
entrar no âmago
de suas infinitas possibilidades
, mas apenas
permanENTE
mente
quanto possível;
se:quer mentar
o frágil fio de mistério:
quer um nome, uma pegada, uma sensação de memória
que nos une
ao movimento anterior,
que nos leva
(repetidamente) as
entranhas,
às
estranhas

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Some tried the mountains
some tried the mental hospitals
some tried only the pills
some tried the streets
some broke the rules
some tried getting drunk all the time
some engaged in silence
exile and cunning.
some tried the woods
some tried living with cats
some tried theirs hometowns
some have experienced
some have seen it all
some accepted chaos
some hopped into boxcars
some shut theirs mouths
some have been around,
walking around.
some changed.
some disappeared.
some died.

Ain't it still
time to do
something?

Ain't it over
yet
?

segunda-feira, 20 de julho de 2009

movie scene "I know what you want"

Festa na sala de estar de alguém. Algo em torno de 20 pessoas, lugar meio apertado. No sofá, uma senhora meia-idade cabelos mal pintados Alzheimer. Fala de assuntos aleatórios e desconexos e pára pessoas para que conversem com ela e pede opiniões a respeito dos assuntos. Cena de constrangimento. Todos a evitam. Um casal apaixonado no canto o garoto fala em francês a garota em espanhol e repetem "Bom que você existe, bom você existir." Dois camaradas conversam sobre o Partido perto da mesa da comida tiram a conclusão de que a antiga esquerda dava as melhores festas. Uma criança aprendendo a falar sentada numa cadeira mais alta. Uma pessoa que ajuda a festa, senta no sofá, conversa, claramente desconfortável, mas que disfarça isso bem. Toca Motown. Fim da festa casa liga o rádio estação de música clássica mão cheia de pílulas pega um livreto para ler. A luz apaga.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Capitão Toqi.

"Eu consigo claramente ver a cabeça do capitão Toqi sendo esmagada por uma pedra ou uma enorme viga de ferro como as do prédio novo do New York Times. Eu consigo ver, está em seu rosto a dor a complexidade disso estampada em seu rosto torcido e não há quem possa fazer algo por ele. O capitão é um grande desbravador, empreendedor e visionário e não gostaríamos de perdê-lo em sua loucura pensando ser um grande desbravador, empreendedor e visionário. Por favor salve-o doutor."

Sinceramente,

Felix, o
zelador polonês
da Deli da 44th st.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Prova

o tédio não me toma enquanto sinto-me vivo

ele tamborilava o piano mudo tenso Bach

'spêri-ênçiash ou 'Amigo Blues'

mas me dôo, e isso já faz uns dias,
na iminÊncia da sua morte.

*********************estalam línguas
(e isso rejuvenesce).

A máquina contínua, pensando. Eu

tenho um pensamento em prosa

(ou seria ao contrário?):

"Mal sabia que havia acontecido. Mas havia. Ma Rainey pendurada no lustre e ele olhava, os gatos miando à sombra do corpo que valsava de leve no ar. Sabia sabia que havia esquecido de tomar os remédios e isso já quase acontecera umavez, dessa vez tinha acontecido. Chamou a polícia. Se entregou. as galinhas realmente esperavam que não precisassem dele, tentaram empurrrar o caso para qualquer outra ordem civil ou psiquiátrica, mas, no fim,levaram-no. A podreceu na prisão escrevendo livros de papel reciclável.
***
Rimbaud ria em sua cadeira confortável de veludo. "Velho detestável, esse Bach. Tem o que merece". em cada lado de sua cadeira, um Dylan Thomas o abanava com as mãos ainda com o suor de Ma rainey caindo pelos dedos. "Na pior das hipóteses, culpamos sempre os alquimistas".
Sua sombra desapareceu no corte da cena."

Rafael Lemos, 09-07-'09.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Aleatório

Eu me entrego
*************meu corpo
********************par
***********************te
-se

quando vislumbro o borrão
do brilho dos grãos de areia
da ferocidade da besta que se entrega
dos corpos certamente mais
uniformes
.

Na minha ausência
todo meu cuidado estético se revela
e se compromete
e inutilidades.
Existe o conforto
das unhas crescendo
dos cabelos caindo
dos vermes comendo meus músculos
que já não pulsam mais:

Permanecem restados nos ossos esfarelados e poeira de madeira enigmaticamente envolvidos pela terra.

E, na memória do sentimento morto
cabe o ataque involuntário
cabe o suicídio
cabe minha caveira dentro do armário.

Rafael Lemos, 07-05-'09.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

colméia (?)

Abelhas circundam, ávidas, meu café
Não pensam, sequer cogitam
a existência adocicada de algo (o)correndo dentro de mim

de corriqueiros pensamentos viciosos
que me decompõem em suor frio e catatonia
************************************ e fôlego curto

Que defendo
*********** quando calo
*********** quando grito? (de qualquer modo, consternado)

A existência das abelhas à minha volta
sentindo diferentemente de mim?

Ou a manutenção do irresistível
vôo (contido) dessas asas?

Rafael Lemos, 17-06-'09. 07:20.

domingo, 24 de maio de 2009

parafraseando...

"Estou tão cheia de vazio
E sou tão fácil de compor
Cada pequeno pedaço de mim
É você
Gritando de dor."

Jessica [Cuervo].

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Compilação de Estudos Lusófonos:

http://www.4shared.com/file/97829287/35b0f292/compilacao_de_estudos_lusofonos.html

Uma compilação de poemas de agradável clima, devaneios de entusiasmo, flertes e danças entre a construção e a desconstrução com movimentos cíclicos e abundância de leveza na consciência.

Aproveitem a leitura.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Eu sou toda uma violência moral, empapada de jazz trompetes soprando meu fim a todo início, todo esforço.

um frio um aço uma insurgência poética uma navalha de corte fino uma queimadura de cigarro um vôo debruçado da varanda lá estou

estou no frio da morte nos olhos azulados aguados fundos de um cachorro cego no lado derrotado no fim da guerra

E não abro mão de decidir meu fim, venha ele num balaço que trespasse a cabeça ou numa fabulosa queda de um arranha-céu em construção.

Não abro mão de corromper o fim desse texto o fim dos meus textos o fim dos meus fins eu carrego todos os meus fins comigo pois não ponho fins nem objetivos nem precisão em lugar algum estarão sempre dentro de meus bolsos fundos ainda que isso signifique seguir reto pelo corredor e ignorar todos os possíveis amores flertes paralelos momentâneos de um segundo uns meses ou algo no meio desse tempo pois quando conseguisse querer-los ia por completos deixo-os voando para que voem das sacadas para que voem para debaixo dos /õnibus debaixo de homens debaixo de mulheres ou sobre eles para que não voem enterrem-se cada vez mais fundo dentro de si mesmos e nos outros para que -

Para que me deixem em paz e se importem comigo mesmo assim.

Rafael Lemos, 03-04-'09
A arte é um animal selvagem,
o mais faminto e perigoso dos leões que saltam de dentro do peito,
o verme que se alimenta de sangue e cresce
e precisa de mais sangue.

Essa é a arte.

Vou me certificar que meu filho fique longe disso tudo:
pinturas, livros, poemas, música, tudo.
Toda a poiesis, escuta que te digo:
"Afasta-te".
Se de mim não tem mais jeito,
ao menos do rebento que há de vir.
Este há de se dedicar a Physis,
esse não será aglomerado e engolido
por tuas fileiras vorazes
de sonhadores.

A arte e o amor.

Rafael Lemos, 03-04-'09.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Sur la Mort

A morte é o momento onde nos encontramos, heróicos.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

praying for myself, praying for yoll.

Loud Prayer

"Our father whose art's in heaven
hollow be thy name
unless things change
Thy wigdom come and gone
thy will will be undone
on earth as it isn't heaven
Give us this day our daily bread
at least three times a day
and forgive us our trespasses
as we would forgive those lovelies
whom we wish would trespass against us
And lead us not into temptation
too often on weekdays
but deliver us from evil
whose presence remains unexplained
in thy kingdom of power and glory
oh man"

Lawrence Ferlinghetti.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Isso pesa meu ar
Me falta a fala,
me faltam as palavras,
me engasgam.
Isso, quero te falar.


Me poe no meu lugar,
vou embora triste quieto

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Postanúncio para dar o link para o meu livretinho novo, que dessa vez não será impresso, só eletrônico.

o Nome é: "Oh!, Poet" &"Carta-caixinha de música-poema sem tom definido." ~Um meio idílio ciumento em poesia~

Trata-se de, como bem já diz o título, um idílio, encaixotado na fôrma de poesia, para ser lido em ritmo de ópera. Eis o link:

http://www.4shared.com/file/83780531/c463599a/Oh_Poet_e_Um_Idilio_Ciumento.html

Enjoyem, não é sempre que eu disponibilizo algo grátis, sou muito apegado àquilo que corrompe.

Bom, lembro outra vez que é para ser lido em ritmo de ópera.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Mariosidades I / Repeat All


Queria Muito Transcrever uma página de Mário de Andrade aqui, algo de pretexto, algo de "Amar, Verbo Intransitivo". Porém tal trecho do idílio fica para outa hora. Hora de outro dia.
Por ora, "Casio, Seiko, Sheraton, Toyota, Mars" (2005), de Sean Snyder.
Esse post nem merece meu nome, injustiça que seria com a montagen fotográfica e digníssimos nomes e livro!

Cantiga-embolada a amiga.

Hoje eu falei com ela, a menina
que tem a voz que eu gosto, de vida,
sofre como todo o povo, e tem a alma recheada
de alegria e continuação.

A menina que está longe.
A menina que eu já conheci longe, mas,
se for perguntar, vai descobrir:
eu já olhava de longe.
lá atrás, la longe, e, se não dizia, pensava,
"essa menina é admirável
essa menina vai longe"
Eu já olhava de longe.
Tolo. mal sabia que a menina já havia ido longe, passado tanta coisa,
era de terra longelongínqua, conhecia tudo.
E ia pra longe.

O tempo passou, ela se foi,
(abrem-se agora pausas, aspas, cortinas e noites velozes ao Ferreira Gullar):
"Quando você se for embora,
moça branca como a neve,
me leve.

Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.

Se no coração não possa
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.

E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,
me leve no esquecimento. "

E nessa bagagem do esquecimento, eu fui.
E, na bagagem do meu esquecimento, ela ficou.
E, de alguma forma que não lembro, ela me falou
e agora falamos os dois
da vida
e todos os problemas e alegrias e tristezas e vitórias, derrotas, empates e desvios e comemorações
que a vida tem. E ainda sobra um espacinho para não falar sobre nada
em
especial.

E hoje, eu precisei legal dela, e ela 'ava com uma ferramentinha,
faceira testando um microfone, acho
e eu ouvi a voz dela, voz que toca na minha rádio.
E, ouvi todo um resumão dessa vida forte que ela vive,
vida forte, de menina forte, de espírito forte, eu acho, pode ser sim, que alguém venha a contradizer, mas minha verdade é absoluta dentro do meu coração, fora talvez não

e foi pra ela que eu consegui dizer dos meus problemas, ela, ~
que não tinha nada a ver com eles.
Se meus problemas fossem flores envasadas,
ela foiquem passou embaixo da marquise,
enquanto meu eu desastrado fazia os vasos caírem,
coitada!, mas também!,
quem mandou ter amizade com um estabanado feito eu?

É,menina branca como a neve,
você não tinha culpa de nada,
e nossa conversa parou no meio,
mas eu te agradeço me deixar mais leve,
por me deixar te atingir em cheio,
e por deixar minha vista enxugada
com esse texto de linhas quebradas.

Rafael Lemos. 28-01-'09


Inserção textual: "Cantiga para não morrer", de Ferreira Gullar, em "Dentro da Noite Veloz", de 1978.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Velho Cavalo de guerra.

Uma coleção de quadrinhas desarranjadas.
Uma série em versos sobre a amizade.
Um compêndio vivo e bem público de Medicina.
Pele rasgada, sangue se esvaindo, fraqueza.
prepotência, viagens e escapismo, choro de olhos que julgavam ser sufciente aquilo que viam.
Bom trato e visistas, convites por piedade, ecletismo.
Vingança, sangue, sangue, sangue, sangue amigo, sangue quente, sangue que corre da pele branca, sangue que corre da pele preta.
a minha nova não necessidade de óculos, o meu novo desinteresse, quase como minha última desistência.
parei de lê-los, agora é onde começo a escrevê-los, não espere que eu jogue a chave, meu bem, a partida já está perdida.
minha nova estética impõe meu nome, impõe o novo a qualquer custo, o novo pior mas limpo e burro. de preferência, nenhum, nem novo nem velho.
vocês já me tiraram o sono, agora, não sei mais.
è que eu olho pro céu, devo estar a procura do meu lugar, parece somente pensado nisso
minha carne é fraca, mas é integra.
meu orgulho que não tive, agora é meu impenetrável.
Mais que meu, eu sou.

Vão à merda pra ver se é interessante como parece.

visitas marcadas, convites piedosos, larga a vida e vem a nós, nós te amamos! sou a babá, sou a governanta, sou claramente Fraulein que agora não tem mais trema. Sou seu Lume.
Eu não quero suas festinhas, nem suas exposições de corpos humanos pela falta de companhia.
Morto eu já estou, qual a diferença?
Desfiz tudo. E vou refazer outra vez.
já não será a primeira, será a mais dolorosa, será a mais frustrante.
Já é.
Cavalo de guerra afastado das operações, veterano, sua utilidade já não existe, por isso você está onde está. Longe como estava, longe com deveria se manter.


Cavalo de guerra, você ainda não arranjou ofensas, você parece velho demais pra nós dois, pra nós todos.

Eu vou responder. Quietinho, entraram na fila dos que esperam uma carta. Não se preocupem mais comigo, vocês têm preferência. Como sempre tiveram.

Rafael Lemos. 27-01-'09

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Facúndia!

O céu esse teto da minha cabeça é pesado,
tão ou mais que a chuva de chumbo, que é coincidentemente parecida
com a resistência dos meus olhos - o teto é esse céu que sobe a cabeça
o céu desse teto é a minha cabeça a cabeça do céu é um teto de chumbo
peças de chumbo são a mecanização, cor de chumbo é o concreto
concreto é o conceto da orquestra de chumbo no teto da minha cabeça que chove coincidências por aí
dicazes cunhãs despidas são as obras que saem de dentro das câmaras de prova da orquestra, dos provadores de fardão e fraque
é o que os violoncelos, tubas, trombones e tambores pregam em lamento
os violinos não lamentam, não, senhor.
Porque na metade de cima da América, colete marrom e camisa surrada, o preto toca o encordoado elétrico solo, é mais dele, porque vem de dentro dele, é real e existe dentro dele e sai assim, pra fora e assustado e logo, logo se acostuma, passa a entrar pra dentro dos outros.
Na metade do Sul, só é elétrico o velho trilho do trem, pioneirismos sem igual entre os vizinhos! e nos bancos passa rápido um velho boina azul, também marrom é o também colete, as calças é que talvez sejam mais largas. passa rápido, mais rápido que essas letras que passam uniformes, o cisma dessa vez é o bandoneon, que movimenta o braço, ar dentro-e-fora, ar dentro-e-fora, ar dentro-e-fora...já passou, já está longe.
No meio da América, o céu cai pesado de chuva, é mandinga, macumba, umbanda? ou batucada? ou embolada? com certeza não são os ritmos do Homo Europeus. Quem sabe os tais punks?


Rafael Lemos. 23-01-'09
don't worry about me.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Porque qualquer dia desses eu vou.
Vou para o fim do mundo,
para conhecer o Brasil,
posto que é preciso conhecer o Brasil, é sim.
E morar numa casa de paredes quatrocentenárias
que não precisam ser paredes erguidas a mando de sobrenomes com o mesmo tempo
ou mais antigos ainda.
Podem nem ser quatrocentenárias, e provavelmente não serão.
Mas precisam ser paredes mudas e paredes firmes.
Paredes que vão calar quando perguntadas por estranhos a meu respeito.
Paredes que vão conter minha cabeça de não voar para fora dali e
vão
escutar-me quando houver a necessidade de falar das minhas lembranças,
pois é o que acho que serei, um lembrador, um coletor de memórias, um
amante na reclusão da minha eternidade de gravador e papel.
Porque a eternidade de moço, essa já escorreu das mãos, tinha que ter sido resolvida antes antes
mas não foi, não,
não, não foi. Agora quem vai sou eu.
E a eternidade das cópias carbono, estas, ainda possíveis,
estranhamente não me satisfaz.
Deve ser porque eu não enxergo o que está pela frente, só o que está de ruim.
Pode ser, pode ir. Que agora eu vou.

Rafael Lemos. 07-01-'09

sábado, 3 de janeiro de 2009

A água cai, gelada,
abre um buraco na minha cabeça, desce meu corpo.
Congela outra meus pensamentos como se isso ainda fosse necessário,
mas neutraliza a minha frustração, que vai com a água,
vai até os pés, mas não sai, fica lá embaixo parada um tempo,
dando um tempo
para me escalar outra vez de novo.
E a água fria esfria cada fio do meu pensamento, fio da minha meada,
e me lembra como são poucos os fios de cabelo que sobraram, mas isso nem me abate tanto mais.
E, ainda que eu viva conscientemente nesse vácuo afônico e claustrofóbico entre os anos, as más notícias e tudo que de desagradável há parecem não se importar em percorrer essa distância toda de mãos dadas e bater na minha porta e assustar meu gato parado sentado no parapeito da janela,
a única companhia que insiste em ficar, com execeção dessa tosse asmática.


Rafael Lemos. 03-01-'09
Imagino a minha morte

E a minha continuação

Livre sem meu corpo

Só amando por aí

Energia pura e simples

Para além da imaginação

Só o vento se sentir

Numa enorme transação

Quente ou frio vou sentir

Leis da física mudando

Quais serão os postulados

As barreiras da evolução

Eu só sei que vou sentir

Sem orelhas ou nariz

Ser amado sem ter sexo, ser feliz como ninguém

Ooh, E a procura continua

Numa enorme evolução.





-"Imagino"- Arnaldo Dias Baptista.