quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Mariosidades I / Repeat All


Queria Muito Transcrever uma página de Mário de Andrade aqui, algo de pretexto, algo de "Amar, Verbo Intransitivo". Porém tal trecho do idílio fica para outa hora. Hora de outro dia.
Por ora, "Casio, Seiko, Sheraton, Toyota, Mars" (2005), de Sean Snyder.
Esse post nem merece meu nome, injustiça que seria com a montagen fotográfica e digníssimos nomes e livro!

Cantiga-embolada a amiga.

Hoje eu falei com ela, a menina
que tem a voz que eu gosto, de vida,
sofre como todo o povo, e tem a alma recheada
de alegria e continuação.

A menina que está longe.
A menina que eu já conheci longe, mas,
se for perguntar, vai descobrir:
eu já olhava de longe.
lá atrás, la longe, e, se não dizia, pensava,
"essa menina é admirável
essa menina vai longe"
Eu já olhava de longe.
Tolo. mal sabia que a menina já havia ido longe, passado tanta coisa,
era de terra longelongínqua, conhecia tudo.
E ia pra longe.

O tempo passou, ela se foi,
(abrem-se agora pausas, aspas, cortinas e noites velozes ao Ferreira Gullar):
"Quando você se for embora,
moça branca como a neve,
me leve.

Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.

Se no coração não possa
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.

E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,
me leve no esquecimento. "

E nessa bagagem do esquecimento, eu fui.
E, na bagagem do meu esquecimento, ela ficou.
E, de alguma forma que não lembro, ela me falou
e agora falamos os dois
da vida
e todos os problemas e alegrias e tristezas e vitórias, derrotas, empates e desvios e comemorações
que a vida tem. E ainda sobra um espacinho para não falar sobre nada
em
especial.

E hoje, eu precisei legal dela, e ela 'ava com uma ferramentinha,
faceira testando um microfone, acho
e eu ouvi a voz dela, voz que toca na minha rádio.
E, ouvi todo um resumão dessa vida forte que ela vive,
vida forte, de menina forte, de espírito forte, eu acho, pode ser sim, que alguém venha a contradizer, mas minha verdade é absoluta dentro do meu coração, fora talvez não

e foi pra ela que eu consegui dizer dos meus problemas, ela, ~
que não tinha nada a ver com eles.
Se meus problemas fossem flores envasadas,
ela foiquem passou embaixo da marquise,
enquanto meu eu desastrado fazia os vasos caírem,
coitada!, mas também!,
quem mandou ter amizade com um estabanado feito eu?

É,menina branca como a neve,
você não tinha culpa de nada,
e nossa conversa parou no meio,
mas eu te agradeço me deixar mais leve,
por me deixar te atingir em cheio,
e por deixar minha vista enxugada
com esse texto de linhas quebradas.

Rafael Lemos. 28-01-'09


Inserção textual: "Cantiga para não morrer", de Ferreira Gullar, em "Dentro da Noite Veloz", de 1978.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Velho Cavalo de guerra.

Uma coleção de quadrinhas desarranjadas.
Uma série em versos sobre a amizade.
Um compêndio vivo e bem público de Medicina.
Pele rasgada, sangue se esvaindo, fraqueza.
prepotência, viagens e escapismo, choro de olhos que julgavam ser sufciente aquilo que viam.
Bom trato e visistas, convites por piedade, ecletismo.
Vingança, sangue, sangue, sangue, sangue amigo, sangue quente, sangue que corre da pele branca, sangue que corre da pele preta.
a minha nova não necessidade de óculos, o meu novo desinteresse, quase como minha última desistência.
parei de lê-los, agora é onde começo a escrevê-los, não espere que eu jogue a chave, meu bem, a partida já está perdida.
minha nova estética impõe meu nome, impõe o novo a qualquer custo, o novo pior mas limpo e burro. de preferência, nenhum, nem novo nem velho.
vocês já me tiraram o sono, agora, não sei mais.
è que eu olho pro céu, devo estar a procura do meu lugar, parece somente pensado nisso
minha carne é fraca, mas é integra.
meu orgulho que não tive, agora é meu impenetrável.
Mais que meu, eu sou.

Vão à merda pra ver se é interessante como parece.

visitas marcadas, convites piedosos, larga a vida e vem a nós, nós te amamos! sou a babá, sou a governanta, sou claramente Fraulein que agora não tem mais trema. Sou seu Lume.
Eu não quero suas festinhas, nem suas exposições de corpos humanos pela falta de companhia.
Morto eu já estou, qual a diferença?
Desfiz tudo. E vou refazer outra vez.
já não será a primeira, será a mais dolorosa, será a mais frustrante.
Já é.
Cavalo de guerra afastado das operações, veterano, sua utilidade já não existe, por isso você está onde está. Longe como estava, longe com deveria se manter.


Cavalo de guerra, você ainda não arranjou ofensas, você parece velho demais pra nós dois, pra nós todos.

Eu vou responder. Quietinho, entraram na fila dos que esperam uma carta. Não se preocupem mais comigo, vocês têm preferência. Como sempre tiveram.

Rafael Lemos. 27-01-'09

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Facúndia!

O céu esse teto da minha cabeça é pesado,
tão ou mais que a chuva de chumbo, que é coincidentemente parecida
com a resistência dos meus olhos - o teto é esse céu que sobe a cabeça
o céu desse teto é a minha cabeça a cabeça do céu é um teto de chumbo
peças de chumbo são a mecanização, cor de chumbo é o concreto
concreto é o conceto da orquestra de chumbo no teto da minha cabeça que chove coincidências por aí
dicazes cunhãs despidas são as obras que saem de dentro das câmaras de prova da orquestra, dos provadores de fardão e fraque
é o que os violoncelos, tubas, trombones e tambores pregam em lamento
os violinos não lamentam, não, senhor.
Porque na metade de cima da América, colete marrom e camisa surrada, o preto toca o encordoado elétrico solo, é mais dele, porque vem de dentro dele, é real e existe dentro dele e sai assim, pra fora e assustado e logo, logo se acostuma, passa a entrar pra dentro dos outros.
Na metade do Sul, só é elétrico o velho trilho do trem, pioneirismos sem igual entre os vizinhos! e nos bancos passa rápido um velho boina azul, também marrom é o também colete, as calças é que talvez sejam mais largas. passa rápido, mais rápido que essas letras que passam uniformes, o cisma dessa vez é o bandoneon, que movimenta o braço, ar dentro-e-fora, ar dentro-e-fora, ar dentro-e-fora...já passou, já está longe.
No meio da América, o céu cai pesado de chuva, é mandinga, macumba, umbanda? ou batucada? ou embolada? com certeza não são os ritmos do Homo Europeus. Quem sabe os tais punks?


Rafael Lemos. 23-01-'09
don't worry about me.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Porque qualquer dia desses eu vou.
Vou para o fim do mundo,
para conhecer o Brasil,
posto que é preciso conhecer o Brasil, é sim.
E morar numa casa de paredes quatrocentenárias
que não precisam ser paredes erguidas a mando de sobrenomes com o mesmo tempo
ou mais antigos ainda.
Podem nem ser quatrocentenárias, e provavelmente não serão.
Mas precisam ser paredes mudas e paredes firmes.
Paredes que vão calar quando perguntadas por estranhos a meu respeito.
Paredes que vão conter minha cabeça de não voar para fora dali e
vão
escutar-me quando houver a necessidade de falar das minhas lembranças,
pois é o que acho que serei, um lembrador, um coletor de memórias, um
amante na reclusão da minha eternidade de gravador e papel.
Porque a eternidade de moço, essa já escorreu das mãos, tinha que ter sido resolvida antes antes
mas não foi, não,
não, não foi. Agora quem vai sou eu.
E a eternidade das cópias carbono, estas, ainda possíveis,
estranhamente não me satisfaz.
Deve ser porque eu não enxergo o que está pela frente, só o que está de ruim.
Pode ser, pode ir. Que agora eu vou.

Rafael Lemos. 07-01-'09

sábado, 3 de janeiro de 2009

A água cai, gelada,
abre um buraco na minha cabeça, desce meu corpo.
Congela outra meus pensamentos como se isso ainda fosse necessário,
mas neutraliza a minha frustração, que vai com a água,
vai até os pés, mas não sai, fica lá embaixo parada um tempo,
dando um tempo
para me escalar outra vez de novo.
E a água fria esfria cada fio do meu pensamento, fio da minha meada,
e me lembra como são poucos os fios de cabelo que sobraram, mas isso nem me abate tanto mais.
E, ainda que eu viva conscientemente nesse vácuo afônico e claustrofóbico entre os anos, as más notícias e tudo que de desagradável há parecem não se importar em percorrer essa distância toda de mãos dadas e bater na minha porta e assustar meu gato parado sentado no parapeito da janela,
a única companhia que insiste em ficar, com execeção dessa tosse asmática.


Rafael Lemos. 03-01-'09
Imagino a minha morte

E a minha continuação

Livre sem meu corpo

Só amando por aí

Energia pura e simples

Para além da imaginação

Só o vento se sentir

Numa enorme transação

Quente ou frio vou sentir

Leis da física mudando

Quais serão os postulados

As barreiras da evolução

Eu só sei que vou sentir

Sem orelhas ou nariz

Ser amado sem ter sexo, ser feliz como ninguém

Ooh, E a procura continua

Numa enorme evolução.





-"Imagino"- Arnaldo Dias Baptista.