quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Cantiga-embolada a amiga.

Hoje eu falei com ela, a menina
que tem a voz que eu gosto, de vida,
sofre como todo o povo, e tem a alma recheada
de alegria e continuação.

A menina que está longe.
A menina que eu já conheci longe, mas,
se for perguntar, vai descobrir:
eu já olhava de longe.
lá atrás, la longe, e, se não dizia, pensava,
"essa menina é admirável
essa menina vai longe"
Eu já olhava de longe.
Tolo. mal sabia que a menina já havia ido longe, passado tanta coisa,
era de terra longelongínqua, conhecia tudo.
E ia pra longe.

O tempo passou, ela se foi,
(abrem-se agora pausas, aspas, cortinas e noites velozes ao Ferreira Gullar):
"Quando você se for embora,
moça branca como a neve,
me leve.

Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.

Se no coração não possa
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.

E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,
me leve no esquecimento. "

E nessa bagagem do esquecimento, eu fui.
E, na bagagem do meu esquecimento, ela ficou.
E, de alguma forma que não lembro, ela me falou
e agora falamos os dois
da vida
e todos os problemas e alegrias e tristezas e vitórias, derrotas, empates e desvios e comemorações
que a vida tem. E ainda sobra um espacinho para não falar sobre nada
em
especial.

E hoje, eu precisei legal dela, e ela 'ava com uma ferramentinha,
faceira testando um microfone, acho
e eu ouvi a voz dela, voz que toca na minha rádio.
E, ouvi todo um resumão dessa vida forte que ela vive,
vida forte, de menina forte, de espírito forte, eu acho, pode ser sim, que alguém venha a contradizer, mas minha verdade é absoluta dentro do meu coração, fora talvez não

e foi pra ela que eu consegui dizer dos meus problemas, ela, ~
que não tinha nada a ver com eles.
Se meus problemas fossem flores envasadas,
ela foiquem passou embaixo da marquise,
enquanto meu eu desastrado fazia os vasos caírem,
coitada!, mas também!,
quem mandou ter amizade com um estabanado feito eu?

É,menina branca como a neve,
você não tinha culpa de nada,
e nossa conversa parou no meio,
mas eu te agradeço me deixar mais leve,
por me deixar te atingir em cheio,
e por deixar minha vista enxugada
com esse texto de linhas quebradas.

Rafael Lemos. 28-01-'09


Inserção textual: "Cantiga para não morrer", de Ferreira Gullar, em "Dentro da Noite Veloz", de 1978.

Um comentário:

Bárbara Cecília disse...

Meu deus! O que é isso? eu amei.
e m senti presente neste texto, estou errada? Voce escreve perfeitamente bem! Que orgulho em lê-lo.